quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O estereótipo nos livros didáticos

Caísa cruz dos Santos
Graduanda em Pedagogia FACED-UFBA

Resumo: O presente artigo analisa a forma que o índio e o negro são abordados nos livros didáticos do Brasil e como este tema está sendo trabalhado no ambiente escolar. Nesse contexto, parte-se da compreensão de textos que apresentam o índio e o negro como caricaturas, identificando a presença da discriminação a essas etnias e mostrando que ainda hoje são estereotipados no material didático.

Palavras-chaves: livro didático, estereótipo, discriminação, negro, índio, escola

Introdução

O livro didático ocupa, ainda hoje, uma posição de destaque no ensino- aprendizagem das crianças do ensino fundamental e médio. O estereotipo nos livros didáticos acontece de forma evidente e marcante. Estão presentes nesses livros manifestações de racismo e preconceito com relação aos povos que ao longo da história do Brasil foram marginalizados. Uma das características que se evidenciam nos livros didáticos são as formas como são contadas as histórias de negros e índios, os quais sempre são mostrados como subalternos e preguiçosos. O material pedagógico que auxilia o trabalho dos professores na sala de aula, muitas vezes, reproduz as ideologias das classes dominantes, expandindo uma visão estereotipada nos livros e, ainda, muitas vezes, omitindo o verdadeiro processo histórico e cultural da população.

Os livros didáticos contemporâneos que chegam nas escolas continuam mostrando caricaturas dos negros e dos índios, ou seja negros em situações de miséria, faxinando, dormindo nas ruas e fazendo trabalhos subalternos aos brancos. Os índios aparecem nesses livros de forma caricatural para ilustrar os livros e também em situações da época colonial, enquanto os brancos sempre estão em contato com livros, aparecem bem vestidos, felizes e sorridentes; isso mostra o quanto é forte o estereótipo nos livros didáticos.

A maneira como algumas escolas expõem os conteúdos do livro didático, na sala de aula, omitindo a história do negro e do índio faz com que não desperte nos alunos o interesse pela história dessas pessoas. É preciso que os educadores mudem sua metodologia, no ambiente escolar, pois muitas vezes reproduzem os conteúdos dos livros sem contextualizar com a realidade do educando.



Como é usado o livro didático nas escolas

O livro didático desempenha papel importante na transmissão de conhecimentos, conteúdos e, principalmente, de valores básicos necessários para a formação de indivíduos. Esse tipo de material impresso é utilizado na maioria das escolas como guia pedagógico para professores que utilizam na prática educativa sem contextualizar com a vida concreta do aluno. Isso faz com que muitas crianças, de escolas públicas e privadas, reproduzam as idéias que os livros passam: o estereÓtipo de povos marginalizados da sociedade sem entender direito o contexto.
Os professores que usam os livros didáticos na sala de aula como suporte para desenvolver atividades educativas, muitas vezes não problematizam a questão no ambiente escolar. Muitos desses matérias são utilizados como complemento ilustrativo e são ocultados os fatos que fazem parte da vida dos indivíduos em formação. Também, os professores na maioria das vezes esquecem de trabalhar a realidade do educando, mas a escola enquanto instituição educativa “deverá construir verdadeiras relações entre a cultura dos alunos, a comunidade social que em nenhum caso poderá evitar o conhecimento que os alunos possuem a parte de sua exposição aos meios” (Litwin ,1997,p.124).


A posição do negro e do índio no livro didático

A história do índio e do negro, desde a regulamentação do livro didático no Brasil, pôde nos conduzir à idéia equivocada da vida e da história dessas etnias que foi introduzida na área educacional. O índio foi estigmatizado como sujo, preguiçoso, selvagem, que não se adaptava para o trabalho, e os livros didáticos preocupavam-se com aspectos folclóricos, de sua cultura e de seus costumes. Ainda na contemporaneidade o índio é pouco mencionado nos livros didáticos, ou, quando é enfatizado, sempre é mostrado no passado. Os negros por sua vez são apresentados nesse material didático como submissos e caracterizados com roupas típicas.
A presença de estereótipos nos livros didáticos é marcante; com imagens que aparecem neste material mostrando formas negativas desses grupos étnica e socialmente excluídos da sociedade. No entanto, este material tão utilizado deveria ser um aliado inicial ao estudante mostrando a eles a verdadeira história dos povos marginalizados e oprimidos.Também seria interessante que os professores explorassem assuntos que se referem aos preconceitos, porque é imprescindível trabalhar com esses temas para desmistificar as questões que envolvem negros e índios para, a partir daí, ser construída uma prática educativa de qualidade, ou seja, que respeite as diferenças étnicas, sociais e culturais.
O papel da educação escolar é formar imagem livre de racismo e afirmar valores básicos necessários, porque os livros didáticos estão impregnados de uma visão das culturas hegemônicas e “as culturas ou vozes dos grupos sociais minoritários e/ou marginalizados, que não dispõem de estruturas importantes de poder costumam ser silenciadas ou mesmo estereotipadas e deformadas para anular suas possibilidades de reação” (Santomé,1998,p.131). Portanto, os estereótipos e a discriminação podem ser trabalhados pelos professores e pelos alunos, nos ambientes intra e extra escolar, incorporando aos conteúdos a história e a cultura da população marginalizada da sociedade.


Lei 10.639/03: questão racial e educacional


A lei 10.639/03, que foi sancionada em 9 de janeiro de 2003, altera a LDB (Lei de Diretrizes e Bases n° 9.394-96) da educação nacional. A partir desta data, o então presidente Luis Inácio Lula da Silva declara que nas instituições de ensino fundamental e médios oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre historia e cultura afro-brasileira justamente numa tentativa de reparar e contar a história do povo marginalizado da sociedade no Brasil. Um dos parágrafos desta nova lei diz o seguinte:1º o conteúdo programático incluirá o estudo da África e dos africanos,a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes a historia do Brasil. Entretanto, na maioria das escolas e principalmente nos materiais didáticos esta lei ainda não está sendo colocada em prática, pois esses assuntos continuam sendo abordados com ênfase no dia 20 de novembro quando se comemora o dia da consciência negra. Neste dia as pessoas estão voltadas para os direitos, à luta pela igualdade de oportunidade e o papel social da população oprimida. Muitos alunos nem se quer sabem o que significa este dia, sua cultura, seu verdadeiro sentido, entendendo como uma simples data comemorativa.

Na LDB encontra-se na seção III do ensino fundamental , artigo 32º, parágrafo 3° o seguinte: o ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurando às comunidades indígenas a utilização de suas línguas maternas e processos própios de aprendizagem. Mas, na maioria das vezes os professores não são capacitados para trabalhar com as línguas maternas indígenas. O índio só é tratado nas instituições escolares no dia 19 de abril, dia que é destinado a esse povo, como se o índio só existisse naquele dia, e na maioria das escolas eles são vistos como personagens que andam nus, moram em ocas. Isto evidencia que não basta apenas lei, é preciso que elas sejam cumpridas e devidamente trabalhadas.


A situação contemporânea dos livros

A análise dos livros didáticos da 1ª e 3ª serie do ensino fundamental e a maneira como está sendo apresentado o negro no ambiente escolar ainda é marcada por estereótipos. No livro Gente que vai, gente que vem ,pagina 140, mostra uma charge que fala da história de migrantes e imigrantes. A charge mostra dois homens brancos que falam que saíram de seus países Itália e Japão, para fazer fortuna em São Paulo, enquanto que aparece ao lado um homem negro, nordestino dizendo que foi para são Paulo construir prédios e carros. Apesar de ser trabalhado o tema preconceito, o livro deixa clara a posição submissa dos negros em relação aos brancos.
No livro histórias, imagens e textos, pagina 65, os índios são apresentados sempre felizes e sorridentes, conformados com a situação em que viviam na época colonial, como se nada tivesse ocorrido em suas vidas. Este livro também mostra crianças indígenas brincando, ajudando seus pais como se isso na época colonial fosse possível, ou seja como se as crianças não brancas tivessem liberdade para ter uma vida tranqüila.
Em nenhum momento mostram que os índios foram dizimados, omitindo muitas informações a respeito dos transtornos que os brancos causaram a eles. Ao mesmo tempo, os brancos aparecem nesses dois livros didáticos como crianças obedientes, brincando, com boas roupas, sempre lendo e os adultos trabalhando em bons cargos.
Esses livros fazem parte de um contexto atual: 2004, e ainda assim continuam reproduzindo formas preconceituosas de negros e índios; isso acontece por que “ as culturas ou vozes dos grupos sociais minoritários e/ou marginalizados, não dispõem de estruturas importantes de poder, costumam ser silenciadas, ou mesmo estereotipada e deformadas para anular suas possibilidades de reação” (Santomé, 1998,p.131).


Considerações finais


As pesquisas feitas a respeito do estereótipo do índio e do negro nos livros didáticos do Brasil mostram como ainda hoje isto vem ocorrendo. Os materiais didáticos trabalhados na sala de aula devem ser analisados com cuidado, porque o professor deve conduzir seus alunos a uma leitura crítica e reflexiva da vida do índio e do negro no Brasil , analisando não só o passado desses povos como também o presente e o futuro.
Os livros didáticos mostram de forma implícita a questão do preconceito. Embora existam leis como a 10639/03, que obriguem as escolas a trabalhar com esses temas, ainda não se encontra nos livros didáticos assuntos que explorem essa realidade de forma completa, ou seja trabalhados o ano todo e não somente em datas destinadas às etnias. Por isso, cabe ao educador tentar mostrar aos educandos que o livro o didático não é detentor da verdade e mostrar e construir junto com eles outros materiais, preferencialmente os que envolvem sua realidade.
A construção de uma sociedade que se preocupe com a questão do preconceito no ambiente intra e extra escolar é possível, basta fazer trabalhos que valorizem a diferença étnica-racial como aspecto positivo à formação do individuo. Dessa forma, a prática educacional que valoriza a diversidade cultural será o ponto inicial para desmistificar a imagem do negro e do índio como seres inferiores e que vivem sempre às margens da sociedade.


Referenciais Bibliográficas:
LITWIN, Edith. Tecnologia Educacional:políticas, histórias e propostas- Porto Alegre: Artes Médicas,1997, página 124.

Santomé, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado- Porto Alegre: editora Artes Médicas, 1998. páginas 131 e 138.

Lei n° 10639-03, que altera a LDB da Educação Nacional n° 9394-96, de 9 de janeiro de2003.

LDB (Lei De Diretrizes e Bases) n° 9.394-03, de 20 de novembro de 1996.


Bibliografia:
ANASTASIA, Carla Maria Junho. Histórias, imagens e textos 1º série: manual do professor Belo Horizonte:Dimensão,2004.
RICCI,Cláudia Sapag. Gente que vai, gente que vem Belo Horizonte: Formato Editorial,2001.

6 comentários:

Anônimo disse...

goiabeiraCaísa , ótimo o seu ártigo " o estereótipo nos livros didáticos"
Com esta consciência, no seu fazer pedagógico, você poderá desmistificar conteúdos que ainda são impressos para dimuir a cultura do outro. Parabéns! Beijos!!!
Ana Simões

ana simoes disse...

bagoiabeiragoiabeiraCaísa , ótimo o seu ártigo " o estereótipo nos livros didáticos"
Ótimo o seu artigo!Com esta consciência, no seu fazer pedagógico, você poderá desmistificar conteúdos que ainda são impressos para dimuir a cultura do outro. Parabéns! Beijos!!!
Ana Simões

30 de Novembro de 2007 09:49

a vida é bonita disse...

CAÍSA VC FOI MUITO FELIZ NA ESCOLHA DE SEU TEMA, POIS VIVEMOS EM UMA ÉPOCA EM QUE AS DIVERSAS RAÇAS BUSCAM A REPARAÇÃO DE SEUS DIREITOS COMO CIDADÃOS, QUE CONVIVEM EM UMA SOCIEDADE, A QUAL É MAIS VALORIZADA A CULTURA EUROPÉIA DO QUE A SUA PRÓPRIA.

Gláucia disse...

Caísa, curti muito seu artigo, inclusive a citação de Santomé(hein Roseli?...:)Bom mas essa questão do estereótipo, é marcante mesmo e passados os tempos insiste me perdurar, abordei um pouco dessa estagnação espaço-temporal no meu artigo também, e fiquei indignada mesmo, a partir do momento em que li, a crítica de outros autores, frente ao que vc mencionou, a ridicularização do índio, a omissão da ascensão negra,e muitos outros temas que são revoltantes, mas que se fazem presentes nos livros textos que são veiculados nas escolas do Brasil.
É necessário mudar isso!A princípio o professor, poderia utilizá-los menos em sala de aula, ou então contextualizá-lo!
Parabéns pela publicação, imagino que vc deve estar pulando de felicidades!
bjux ;)

Buscando o conhecimento disse...

Parabéns, vc. escolheu um tema muito interessante e , que envolve o ontem e o hoje.

Unknown disse...

Quando o povo deixar o preconceito de lado e juntos nos unirmos em busca de uma educação melhor, de uma vida melhor, nós vamos só assim sermos respeitado.
O povo não é unido, quem ganha com isso é o José Sarney, e todos os políticos corruptos que fingen fazer leis que nunca são cumpridas, porque o povo não reivindica através de políticas públicas.
O povo é besta, quando o povo vai aprender a se organizar quando, aqui em São Luís- Maranhão quem manda é a família Sarney, Roseana Sarney, a família Murad, a família do então ministro atual da energias (laranja do Sarney) Edsom Lobão, e eu vou morrer e não vou ver nunca o povo se organizar pra tirar esses sangue sugas da educação e da saúde.